… sobre pedra e poesia
Um pedreiro foi o responsável pela descoberta de uma pegadinha que Fernando Pessoa aplicou nos seus felizardos leitores.
A decifração de um não tão claro enigma veio de um estudioso, mais tarde biógrafo arretado do multifacetado escritor português: o jurista José Paulo Cavalcanti Filho me recebeu e um amigo meu para uma entrevista no seu escritório em Recife. O tema não era literatura, e sim algo relacionado à Constituição Federal, a direitos e deveres. Eu acho que ainda tenho o resultado dessa entrevista entre os meus velhos papéis.
Supergeneroso, José Paulo nos contou que sempre achou estranhos os seguintes versos de Fernando Pessoa:
Ele disse que se perguntava, encafifado:
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.
Como alguém pode fingir algo que realmente é ocorre? A resposta seria uma tarefa digna de detetive e essa investigação levaria anos. Zé Paulo falou que estava visitando uma obra de um amigo e ouviu um pedreiro dizer pro ajudante:
– Traz a areia de fingir.
Ops, traz a areia de fingir? Correu pra casa e num dicionário latino encontrou o termo finger:
– Eu descobri que além de fingir, tem também outra acepção: construir! Então, por causa de um pedreiro, me foi revelado que Fernando Pessoa fez uma brincadeira com a gente:
O poeta é um fingidor (construtor)
Finge (constrói) tão completamente que chega a fingir
que é dor (construir a dor) a dor que deveras sente.
E viva José Paulo Cavalcanti Sherlock Holmes Filho!