
Ao ler Vidas Secas para o meu filho, tive que interromper porque ele disse que estava se sentindo muito mal pela situação da família retratada na obra de Graciliano Ramos. E olha que o colégio em que estuda gosta de literatura bélica. Ele já encarou A Mala de Hannah, de Karen Levine; e vai ter que enfrentar, ainda neste ano, Terras Sonâmbulas, de Mia Couto, sobre a guerra civil em Moçambique.
Realmente, são vidas parcas as de Sinhá Vitória e a do marido, Fabiano; do filho mais velho,; do filho mais novo; do papagaio e da cadela Baleia.
Vidas Secas partiu de uma série de contos publicados em vários jornais. O primeiro conto intitulou-se Baleia. A opção por escrever short stories, como chamam os norte-americanos, deveu-se a um condicionante: a dificuldade financeira de Ramos o obrigava a publicar na imprensa para receber imediatamente o pagamento. Não sei em quando o autor percebeu que estava escrevendo um romance. Se foi um acaso ou não. Eram histórias independentes que formavam um todo.
Vidas Secas, publicado em 1938, é de partir o coração. E é literatura inovadora, com linguagem enxuta para fazer jus à aspereza da terra no Sertão de Alagoas.
O romance virou filme nas mãos de Nelson Pereira dos Santos e teve uma interessante carreira internacional. Em 1964, concorreu no Festival de Cannes junto com Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Neste ano, saiu vencedora a película Os Guarda-chuvas do Amor (Les parapluies de Cherbourg).
O que me motivou a escrever sobre Vidas Secas foi conhecer a luminosa Carla Fernanda, parente da atriz Maria Ribeiro, o que me levou a rever o filme, visto pela primeira vez quando eu fazia faculdade de jornalismo em 1995.
No dia 10 de setembro de 2021, notei que a atriz que encarnou o papel de Sinhá Vitória em Vidas Secas ainda não possui um verbete na Wikipédia.
Na minha biblioteca, tenho História do Cinema Brasileiro, organizado por Fernão Ramos e, pasme, não há um verbete sobre a atriz. Há páginas e mais páginas dedicadas ao filme, ao diretor, ao ator que fez Fabiano, porém, nada relevante a respeito da nossa Maria Ribeiro. Ela só aparece no índice onosmástico e na ficha técnica do filme. Um erro fabuloso obliviar o nome de uma das atrizes mais importantes do cinema brasileiro.

Ribeiro tem 98 anos de idade e vive na Suíça. Voltou a trabalhar com Nelson Pereira dos Santos em O Amuleto de Ogum e n´A Terceira Margem do Rio, baseado no conto homônimo de João Guimarães Rosa.
E viva Maria Ribeiro!
Filmografia de Maria Ribeiro
- Vidas Secas (1963), direção de Nelson Pereira dos Santos
- A Hora e a Vez de Augusto Matraga (1965), Roberto Santos
- Os Herdeiros (1970), Cacá Diegues
- O Amuleto de Ogum (1974), Nelson Pereira dos Santos
- Soledade (1976), Paulo Thiago.
- Perdida (1976), Carlos Alberto Prates Corrêa
- A Terceira Margem do Rio (1994), Nelson Pereira dos Santos
- As Tranças de Maria (2003), Pedro Carlos Rovai

=== Fontes onde bebi informações para escrever este artigo:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vidas_Secas_(filme)
https://www.mulheresdocinemabrasileiro.com.br/site/mulheres/visualiza/297/Maria-Ribeiro/3
Algo que até hoje não entendi é o fato de quase nada se saber sobre a vida de Maria Ribeiro. Apenas informações esparsas, como a de que vive na Suíça. Com certeza ela merece uma ampla biografia pelo papel que desempenhou na obra magistral de Graciliano Ramos.
Obrigada pelo comentário, Antonio. A família de Maria Ribeiro ficou de fazer uma página na Wikipedia. Esperemos 🙂
… E Antonio, graças ao seu comentário, fui atrás da História do Cinema Brasileiro, organizado por Fernão Ramos. E descobri que o nome de Maria Ribeiro está apenas na ficha técnica do filme.
Mas veja só que descaso com uma atriz tão importante. Brasil é mesmo um país sem memória não? Uma pena que não deram a ela o destaque que merecia. Vai saber se não foram as decepções que a empurraram em direção a Europa, não é mesmo?